Sunday, December 5, 2010

"QUASE"

(Luís Fernando Veríssimo)

Ainda pior que a convicção do não,
é a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase.


É o quase que me incomoda, que me entristece,
que me mata, trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.


Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou.


Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas ideias que nunca sairão do papel,
graças a essa maldita mania de viver no Outono.


Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna;
ou melhor não me pergunto, contesto.


A resposta, eu sei de cor.


Está estampada na distância e frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.


Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.


A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.


Talvez estes fossem bons motivos para se decidir entre a alegria e a dor,
sentir o nada, mas não são.


Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas,
Os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.


O nada não ilumina, não inspira,
não aflige nem acalma.
Apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.


Não é que a fé mova montanhas,
nem que todas as estrelas estejam ao alcance.


Para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos somente a
paciência.
Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória, é desperdiçar a
oportunidade de merecer.


Para os erros, há perdão;
para os fracassos, chances;
para os amores impossíveis, tempo.


De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.


Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo o impeça de tentar.


Desconfie do destino e acredite em si.
Gaste mais horas realizando, que sonhando,
Fazendo, que planeando,
Vivendo, que esperando porque,
embora quem quase morre, esteja vivo,
quem quase vive,
já morreu.

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